Monday, March 10, 2008

Especialistas

Gustavo: E aí, João, tudo certo contigo?
João: Ah, tranquilo
Gustavo: Que bom. Por aqui também, só ando desanimado. Nem sei ao certo por que, mas ando. Não há nenhum problema evidente nem nada.
João: Pode ser falta de proteína na sua dieta.
Carne, ovos, etc.
Gustavo: Ah, eu tô bem nisso. Mas tenho me alimentado mal, é verdade.
Isso deprime também, é?
João: Deprime, pelo menos, nutricionistas.
Gustavo: Cada ramo do conhecimento humano atribui à ausência de zelo à sua área a causa das depressões
e assim vamos
até os teólogos concluírem que o que falta é Deus -- no que estão certos.

Friday, March 07, 2008

Um post chato e desnecessariamente comprido sobre um assunto sem importância

Não entendo o que leva as pessoas a dizerem, quando celebrando uma data, que "todo dia é dia de-". Percebi isto especialmente hoje, nas celebrações antecipadas do dia da mulher aqui na faculdade. Ouvi da boca de não menos seis pessoas, num intervalo de apenas quatro horas, que todo dia é dia da mulher. Se todo dia é o dia da mulher, porque comemorar no dia 8, então?

Comerciais dizendo que todo dia é dia dos namorados. Pastores dizendo do púlpito que a páscoa acontece verdadeiramente todos os dias, em nossos corações. Pessoas dizendo que o natal é pro ano inteiro. Meu Deus, pessoas, eu entendo o desejo de fazer com que todo dia seja especial, e entendo o desejo de fazer alguém se sentir especial todos os dias. Mas se podemos aposentar pelo menos um clichê, que tal nos livrarmos desse tique mental de dizer que todo dia é o feriado presente? Essa mania me lembra o chapeleiro maluco e a lebre de março, comemorando seus desaniversários 364 dias por ano.



Aqui: o que faz cada feriado ser especial é justamente o fato de que, entre todos os dias do ano que não comemoram um evento, ou pessoa, ou idéia, aquele dia o comemora. Se todo dia for dia da secretária, ou dia do motorista de ambulância, ou dia da mulher, que diferença isto faz? Se todo dia for dia do guarda de trânsito, não haverá mais dia do guarda de trânsito. O fato de que o dia especial só ocorre uma vez por ano é justamente o que o faz especial.

O mesmo com festas religiosas. O que faz do natal e da páscoa ocasiões sagradas é o fato de que embora sempre lembremos do nascimento e paixão de Nosso Senhor, nós as celebramos especificamente naquelas datas. Se o ritual se tornar rotina, ele perde sua aura mística, ele se torna entediante. Uma grande celebração perde sua legitimidade se ela ocorre todo dia. É impossível estar em celebração constante. Júbilo perpétuo é um estado biologicamente e psicologicamente inatingível. Quem comemora desaniversários o ano inteiro não tem fôlego pra comemorar aniversários de verdade.

E é por isso que acho bobagem dizer que o dia da mulher, ou o dia do domador de leões, ou o dia da banana chiquita, é todo dia.

Wednesday, March 05, 2008

Strandbeest

Graças a este artigo do Cracked, descobri a minha vocação verdadeira. Eu gostava de ciências quando era criança, mas com o tempo fui ficando mais leitor e mais interessado em filosofia e teologia, até me tornar o adulto burraldo e ignorante-em-ciências que sou hoje. E justo agora que comecei a trabalhar na área de teologia, eu descubro que foi tudo em vão: eu deveria ter ficado com a ciência para um dia me tornar como Theo Jansen.

Theo Jansen usa algoritmos genéticos (seja lá o que sejam) para criar "animais" esqueléticos que conseguem andar sozinhos usando a força do vento. Ele constrói estas criaturas artificiais com tubos de plástico, engrenagens, e uma mente diabólica, e então faz o que qualquer gênio insano faria com um exército de monstros esqueléticos gigantescos que andam sozinhos; ele os solta na praia. Vejam o vídeo.


Não tenho palavras.


Tuesday, March 04, 2008

And some will sleep, but will not die

Me contaram que Larry Norman, o pai do rock crente, morreu mês passado. Se você quer alguém pra culpar por algum grupo adolescente fazendo covers irônicos de Sou uma Florzinha de Jesus com guitarras elétricas, suponho que seja, indiretamente, ele.

Mas eu tenho dívida com o Larry. Sem a música dele e de um pequeno e precioso punhado de outros, esse filho de pastor não teria acesso a rock and roll, e minha música favorita provavelmente seria, sei lá, algum hino da harpa cristã cantada pelo Eliezer Rosa. E a morte dele realmente me entristeceu. Boa noite, Larry, e obrigado mesmo.

Sunday, March 02, 2008

O Índice da Maldade

Entrando na sala, vejo minha irmãzinha assistindo um programa no Discovery Channel chamado "O Índice da Maldade". A premissa do programa parece ser que um psicólogo analiza os casos de vários serial killers, e pronúncia o nível de maldade de cada um dentro de uma escala pré-determinada. Por exemplo, assassinos são X pontos piores do que ladrões, e assassinos-estupradores são Y pontos piores do que meros assassinos, e assim por diante, até que toda uma galeria de assassinos em série esteja julgada e condenada de acordo com o patamar de maldade em que se encontram. Não gostei muito da idéia. E o motivo é o seguinte:

Uma das premissas básicas do cristianismo é que todo ser humano é desesperadamente corrupto e mau quando comparado ao Deus santíssimo, e ainda genuinamente mau mesmo apenas em comparação com outros seres humanos. Como escreveu Paulo, citando o salmista, "Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda, não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com a língua tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos."

O motivo pelo qual a mensagem do Cristianismo é (ou, aliás, deveria ser) uma de salvação pela graça divina por intermédio da fé, e não por mérito humano, é justamente por essa incapacidade de santidade inerente ao homem. Ao homem que diz que Deus o aceitará porque ele foi bondoso durante sua vida, o cristão pergunta: que bondade você possívelmente poderia possuir que satisfaria um Deus eternamente justo? O cristão é ordenado a depender da graça divina porque nada, absolutamente nada que ele pode fazer poderia começar a apagar as manchas em sua alma, a desonra feita a Deus, o veneno com o qual ele já infectou o mundo.

E é também por esse motivo que o cristão é proibido de julgar os outros. Como C.S. Lewis apontou, um homem pode estar numa posição onde sua ira causa a morte de milhares, outro numa posição onde sua ira faz apenas com que as pessoas riam dele: mas o mal que os devora por dentro pode ser exatamente o mesmo. Por isso a ordem é sempre a mesma: não julgue. Não julgue os outros, porque com a mesma medida com que julga, você também será julgado. Não julgue, porque você não sabe com que tentação seu próximo caiu. Não julge, porque você mesmo não suportou a sua tentação. Não julgue, porque você teve a sorte de nascer numa situação onde o seu egoísmo e decisões erradas te levam a pecados discretos e fáceis de ocultar, e não a assassinatos e destruição. Nos olhos de Quem define toda a realidade, estamos todos no mesmo patamar; não importa o quanto seus pecados sejam menores, qualquer um sozinho já reduz sua justiça, aos olhos do céu, a nada. E não é apontando para serial killers e pensando em quão melhores somos do que eles, o quão malignos eles são em comparação com nós cidadões honestos e comuns, que vai mudar isto.